quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

ANTÔNIO LUÍS, “CORRE BEIRADA”


Grande encantado Francês, vem na família da Mata do Codó e muito conhecido e chamado de Corre Beirada, filho de Dom Luís Rei de França mas foi criado por Seu Légua. Agregado aos boiadeiros, há outros que dizem que ele é irmão de Légua, assim como muitos.

Dom Luís teve ainda outro filho, Antônio Luís Corre Beirada, este teria nascido na corte, mas não aceitou a realeza por não gostar de suas regras. Em função disso deixou a casa paterna e foi viver como caboclo agregado em outra família, neste caso a já citada Família da Mata do Codó.

Ele é um Rei
Ele é um Rei soberano,
Desceu na guma
Sou rosa de todo ano
(Dom Luiz Rei de França)

Uns dizem que ele entrou para a família da Turquia, outros, que anda pelo mundo “correndo beira”, ou seja vagando. O fato é que não usa bastão de nobreza. Neste sentido pai Brasil conclui: “uns se misturaram e outros não, uns aceitaram a mistura e outros não”(Pai Hermeto Paraense, Mineiro).
(Taissa, 2018).

Cantos
I
Corre Beirada já chegou
Corre beirada...
Corre beiras e beirinhas
Corre beira das casadas
E também das solteirinhas

II
Se chama Antônio Luiz
Estrela da Madrugada
Na mata do Maranhão
Se chama Corre Beirada

III
A noite está estrelada
Corre Beirada veio baiar
Ele veio cansado de tanto viajar
Corre Beirada vem das águas do Pará

IV
No salão da Baronesa
Corre Beirada chegou
Chegou, chegou,
Corre Beirada chegou


Vídeo Gravado no Dia da Festa de Seu Corre Beirada, na casa do Sacerdote do Zelador da ACALUZ, Oyá Messubô, Raimundo Nonato Silva.


Era muito amigo de seus dois irmãos mais velhos. Um de seus irmãos era casado. Eles viveram numa época de muita guerra e participaram juntos de muitas batalhas, mas houve uma de que seus irmãos participaram e ele não. Passado algum tempo que eles haviam partido para o campo de batalha, Antônio Luís recebeu a notícia de que os dois haviam morrido. Ele ficou muito abalado e a tristeza tomou conta de sua vida e deu para beber descontroladamente.

Certa vez, estando bêbado, “boliu” com a cunhada e ela ficou grávida. Logo depois, seus irmãos, que haviam sido dados por mortos, apareceram. Ele, sem saber como encarar o irmão e explicar a gravidez de sua mulher, preferiu se atirar no mar, onde se encantou e passou a viver em carne e em espírito.

Muitos anos depois ele incorporou num homem, que não conhecia a família dele, foi falar com o irmão, que ainda era vivo, e disse quem ele era. O irmão só acreditou porque ele falou muitas coisas do seu passado, que não eram de conhecimento público. Naquela ocasião, ele informou ao irmão que o seu nome, em terra, era Antônio Luís, e que no mar era Corre Beirada, nome pelo qual passou a ser também chamado nos terreiros onde é recebido. Depois daquela revelação, o irmão passou a ajudar o homem que foi o primeiro "cavalo" de Corre Beirada.

Não se sabe a partir de quando Antônio Luís passou a ser recebido em terreiro de Mina e salões de curadores, o que se sabe é que nos da capital maranhense ele é conhecido como filho de Dom Luís, Rei de França.

Existe uma outra história de Antônio Luís, onde ele também aparece ligado ao mar e à cachaça. Antônio Luís deveria suceder o pai, Dom Luís, Rei de França. Mas, como era dado a ocultismos e à boemia, foi destronado por aquele rei, como é narrado em uma de suas “doutrinas” cantadas em terreiros de São Luís:

“Por causa da cachaça
já perdi minha coroa,
sabe Deus e muita gente
que a cachaça é muito boa”.

Mais tarde, devido ao seu contato com magos, entrou na encantaria e passou a vir como um peixe, em salões de curadores, com o poder de curar e com muitos outros dons. Fala-se que ele se encantou num peixe, num cambel, porque, apesar de nobre, foi pescador. Por isso, quando se canta uma toada num ritual de Cura (pajelança) falando nesse peixe, já se sabe que Corre Beira chegou: “E olha os olhos do cambel, que alumeia lá no mar”...

“A mamãe tá chorando
Porque eu vou me encantar,
A mamãe é culpada
Da Mãe d´Água me levar.
Ô não chora, não chora, mamãe,
Ô não chora, não chora, papai,
A Mãe d´Água me leva,
A Mãe d´Água me leva,
A Mãe d´Água me traz”

Suas cores são: Usa azul-marinho, branco e vermelho.

CONCLUSÃO

Quem conta um conto aumenta um ponto!

Nem todo mundo acredita em encantados, mas todo mundo que já ouviu falar neles pode ter, um dia, uma experiência gratificante ou aterrorizante com eles: um sonho, uma visão, um transe.... No transe eles chegam geralmente “de assalto”, quando a pessoa está desprevenida, num momento de distração, e provocam uma sensação de sono, anestesia, ou uma espécie de desmaio. Muitas coisas podem favorecer a sua aproximação: o silêncio, o isolamento, a fome, o som destacado e persistente dos tambores e o movimento repetitivo da dança nos rituais, mas dizem que nada pode impedir a sua aproximação, nem mesmo a falta de crença neles.

Nem todo “mineiro” é vidente, mas todos estão acostumados a conviver com encantados. Eles advertem, orientam, determinam, castigam e consolam. Não seria exagero dizer que a maior parte das grandes e pequenas decisões dos médiuns são tomadas levando em conta inspirações que vêm dos seus protetores espirituais.

Tenho muitas outras histórias para contar, mas fica para outra hora. Como já me disse uma “mineira”, não se deve falar tudo de uma só vez para que se possa ter sempre algo a acrescentar...