A Encantaria é o resultado da fusão
de todos os rituais existentes no Brasil antes da chegada do homem branco com
sua cultura católica fetichista, mais a contribuição africana durante 350 anos.
Tendo por tronco básico a ritualística indígena serviu de esteio e receptáculo
para as demais tradições importadas. Na Encantaria poderemos facilmente
encontrar traços, fragmentos e até grandes remanescências das influências
ciganas, africanas, católicas, judaicas, árabes, celtas, gregas, romanas e, principalmente
indígena.. Mas o grande sustentáculo da encantaria, é a cultura indígena
Tupi-Guarani com sua ritualística maravilhosa, voltada para a flora e fauna com
ritmos extasiantes e mágicos. Como “pangelança/pajelança” no norte, “terecô” no
Maranhão, “catimbó” no nordeste, “quimbanda” na Bahia, “macumba” no Rio de
Janeiro e São Paulo e, “batuque” no Rio Grande do Sul, a Encantaria está
espalhada por todo o Brasil sob diversas formas nomes e rituais.
A Encantaria não tem um ritual
iniciático e doutrina específica. Cada casa ou “terreiro” segue sua própria
doutrina, estabelecendo suas regras e forma de prática do ritual. Via de regra
não estabelece raízes ou tradições sucessórias, a não ser que as tenha.
Os
Encantados: Os
encantados são as energias mais misteriosas e difíceis de serem definidas. São
inicialmente divididas em grupos, a saber: Espíritos que viveram há mais de 100
anos (e até três mil anos), espíritos que não viveram e são etéreos e
manifestam-se por holografia ou incorporação, espíritos que viveram com corpo
físico e manifestam-se visualmente ou mediante contato com a dimensão paralela
(quadrimensional quântica) e, finalmente os anjos das 3 categorias, “penosos”,
discordantes e rebeldes, que se manifestam de todas as formas possíveis.
Boiadeiros:
No rol dos
encantados estão todos que não são Orixás, todos que não são Voduns e todos que
já são resultado da miscigenação entre Voduns e Orixás (ambos africanos), e os
espíritos da terra, aqueles que já estavam aqui quando o homem branco e o negro
chegaram. Vulgarmente são chamados de Caboclos em algumas regiões ou Encantados
e mestres outras regiões.Um dos grupos mais presentes e pouco conhecido, é o de
Boiadeiro, “O Senhor do Portal do Tempo e das Dimensões”. Atendem por nomes
como Navizala, Divizala, Itamaracá, Lua Nova, Campineiro, Gibão de Couro e
muitos outros codinomes que escondem sua verdadeira origem e missão.
Por serem “fechados” em suas falas
pouco se aprendeu sobre este grupo de encantados até hoje. Mas podemos afirmar
que trata-se de uma “falange” poderosíssima, com altos conhecimentos místicos,
astronômicos e litúrgicos. São capazes de promover fenômenos indescritíveis se
invocados da forma corretas com os “apetrechos” certos.
Durante anos as Casas de Candomblé de
Angola (Endembo, Mushi-Congo, Tumba Junçara) e Xambá, costumavam após o término
do ‘Shirê” Ti Inkisse (roda de santo de Angola), fazer um toque de louvação à
Boiadeiro, toque este que rompia a madrugada com o dia clareando e muita
Jenipapina. Isto sem se falar nas cantigas conhecidas por “sutaque” que vêm do
fundo da alma e são feitas de improviso.
Jurema: Considerada a mais popular e
poderosa ritualística de Encantaria brasileira o ritual da Jurema (hoje
bastante miscigenada devido aos fatores já explicados), é no nordeste, tão
popular quanto o frevo e o samba no Rio de Janeiro.
Jurema (Acacia Nigra), é a árvore
sagrada dos indígenas brasileiros há milênios. Nela concentram-se todos os
valores fitoterápicos e místicos de um ritual que de uma certa forma,
influenciou todos os demais no Brasil inteiro. Dezenas de encantados e mestres
espirituais do ritual da Jurema povoam as “Casas de Nação” (candomblés) os
quais não podem negar-lhes “espaço”. A Jurema por ser um ritual totalmente
brasileiro é o único que se equipara aos seus congêneres africanos por ter sua
própria Raiz e Origem. A raiz, é a árvore com suas folhas, casca a raízes – A
origem é Monan, deus supremo dos Tupis,Caetés, Tabajaras, Potiguás, Tapuias,
Pataxós e outras nações indígenas. Seus protetores eram (até a chegada do
branco), Tupan, Yara, Caapora, Curupira, Boiúna, Mo Boiátatá, Jaguá, Rudá, Carcará
e outros mais. Eram de tribos diferentes, mas cultuavam os mesmos deuses aos
pés da mesma árvore: JUREMA.
Com a miscigenação entre os indígenas
e o branco e entre indígenas e o negro miscigenaram-se também, suas culturas,
seus arquétipos, seus usos e costumes. Com o aparecimento “caboclo” (mestiço),
apareceram também os encantados resultados desta mestiçagem. O ritual da
Jurema, vulgarmente chamado de “Catimbó”, devido ao uso de cachimbos durante a
prática, é cercado de preparos e cuidados especiais respeitanto-se
prioritariamente a ancestralidade de cada um ou da própria raiz em torno da
qual realiza-se a prática. Esta por sua vez, obedece à vínculos locatícios
chamados de “cidades da jurema”, cada uma com seu nome. O ritual tanto pode ser
feito sobre uma mesa com pode ser feito no chão. As forma são distintas, com
objetivos as vezes diferentes.
Os ingredientes e apetrechos usados nos rituais de Jurema são os seguintes:
Cachimbos confeccionados à mão de
diferentes troncos de árvores Fumos feitos com folhas de tabaco misturadas com
folhas de diferentes árvores (dependendo da intenção do “trabalho”) Maracá
(chocalho indígena) para invocar os mestres encantados Pequenos troncos de
Jurema sobre os quais acende-se velas (dependendo do número de “Cidades” as quais
serão invocadas – (preferencialmente 4 cidades) Sineta de metal nobre para
invocação dos Mestres - (no passado era com caxixi) 2 ou mais copos altos e
largos com água Toalha vermelha ou branca se for na mesa e vermelha se for no
chão.
ALHANDRA, a
Cidade Sagrada: A cidade sagrada da Jurema é ALHANDRA na Paraíba, entre João Pessoa e
Recife. Este é o MARCO ZERO da Jurema no Brasil e também, centro de romarias de
milhares de pessoas anualmente. Dentro de Alhandra estão outras três outras
cidades sagradas conhecidas por Acais, Tapuiú e Estiva. Lá também estão os
túmulos de vários mestres famosos no Brasil inteiro. Maria do Acais, Damiana
Guimarães e Zezinho do Acais, fizeram a fama desta cidade que contém a Jurema
de Cangaruçu por todos respeitada neste Brasil. Nenhum mestre da Jurema deve o
pode ser tratado como se fosse um Egun ou Exu!
Mestres
famosos da Jurema:
Mestra Maria do Acaís (Maria
Gonçalves de Barros)
Mestre José Pilintra (José de Aguiar
dos Anjos)
Mestre Major do Dia
Mestre Cabeleira (Dom José do
Vale)
Mestre Zezinho do Acais
Mestre Cangaruçu
Princesa de Leusa
Mestra Maria Elisiara
Mestra Joana Pé de Chita (Joana
Malhada)
Mestra Damiana Guimarães
Mestre Emanoel Maior do Pé da Serra
(Emanoel Cavalcante de Albuquerque)
Mestre Manoel Cadete
Mestre Marechal Campo Alegre
Mestre Arcoverde
Mestre Tertuliano
Mestre Malunguinho
Mestra Piorra
Mestre Carlos Velho (José Carlos
Gonçalves de Barros)
Mestra Maria Solomona
Mestra Judith do Barracão
Mestra Maria Padilha
Mestre Antônio Macieira
Rei Eron
Mestre Cesário
Mestra Jardecilia ou Zefa de Tiíno
Mestre Tandá
Mestra Izabel
Mestre Zé Quati
Mestre Casteliano Gonçalves
Mestra Fortunata do Pina (Baiana do
Pina)
Mestre Nêgo do Pão
Mestra Maria Magra
Mestre
Candinho
Cidade do
Segredo da Jurema
Tambaba
7 Cidades
Sagradas
Jurema, Vajucá, Junça, Angico,
Aroeira, Manacá e Catucá.
Toadas
(cantigas) de alguns Mestres do Catimbó ou Jurema:
Mestre Malunguinho:
"Malunguinho está nas matas, ele está é
abrindo mesa a um Rei. Me abra este mesa Malunguinho e tire Espec do caminho.
Espec aqui, espec acolá para os inimigos não passar. Espec aqui Espec acolá
para os inimigos eu derrotar." – (bis)
Mestre Major do
Dia:
"Ó meu Major, ó meu Major, meu Major de
Cavalaria. És meu major, és meu Major, és Meu Major do Dia." – (bis)
Mestre Zezinho do Acaes:
"De longe venho saindo, de longe venho
chegando, tocando a minha viola e as meninas apreciando. Cantando eu venho
folgando eu estou. Cantando eu venho da minha cidade. Minha barquinha nova nela
eu venho, feita de aroeira que é pau marinho. Quem vem dentro dela é o meu Bom
Jesus, de braços abertos, cravado na Cruz. – Aurora é Canindé, Aurora é Canindé."
Mestre Cabeleira - (Zé do
Vale)
"Eu venho de porta em porta caindo de déu em
deu. E casa que eu conheço é a sombra do meu chapéu. Fecha a porta gente que o
Cabeleira e vem. Pegando rapaz, menina também. Pegando rapaz, menina também.
Minha mãe sempre dizia, “meu filho tome abenção, meu filho nunca mate, menino
pagão” – Subi serra de fogo com alpercata de algodão, se a alpercata pega fogo,
o boto desce de pé no chão. E o meu cavalo, é maresia...ele vadeia lá na praia
do lençol." – (bis)
Mestra Maria de Elisiara:
"Que campos tão lindos, vejo o meu gado todo
espalhado, lá vem Maria de Elisiara, que vem ajuntando o gado. Lá vem Maria de
Elisiara, rainha de Salomão, que já foi Mestra e hoje é discípula do nosso
querido Rei João. Que Campos lindo e Varandas" – (bis)
Mestra Joana Pé de Chita:
- (Joana Malhada)
"Eu sou Joana da cidade de Santa Rita, tenho
um Cachimbo respeitado, eu sou Joana Pé de Chita" – (bis)
Mestre Emanuel Maior do
Pé da Serra:
"Campos Verdes, meus Campos Verdes, tua luz
estou avistando, da cidade de Campos Verdes, Emanuel Maior já vem chegando.
Campos Verdes, meus Campos Verdes vejo o meu gado todo espalhado, da cidade de
Campos Verdes Emanuel Maior vem ajuntando o gado. É fogo na “Gaita” e toque o
“Maracá”, bote água na cuia pra Emanuel Maior tomar."
Mestre Rei dos Ciganos –
(Barô Romanó)
"Eu estava sentado na pedra fria, Rei dos
Ciganos mandou me chamar. Rei dos Ciganos e a Cabocla Índia, Índia Africana no
Jurema. Quem traz a flecha é a Cabocla Índia, Rei dos Ciganos mandou me
entregar. Quem traz a flecha é a cabocla Índia, eia arma a flecha que eu vou
flechar. Quem traz a flecha é a Cabocla Índia, eia arma a flecha vamos
flechar."
Mestre Tertuliano:
"É de Ipanema, é de Ipanema – Tertuliano
trabalhando na Jurema" – (bis)
Mestre Marechal Campo
Alegre:
"Eu dei quatro volta no mundo e o sino da
capela gemeu. Sou eu Marechal Campo Alegre, e o Dono do Mundo sou eu." –
(bis)
Mestra Judith do
Barracão:
"Judith ó minha Judith, Judith lá do Barracão
e os campos de Judith, são campos, são campos. E atira, Judith atira, pedaço
"preaca" de mulher. E os campos de Judith são campos, são campos. E
atira, Judith atira cabocla negra de Ioruba, e os campos de Judith são campos,
são campos. E o bueiro de Judith, é bueiro, é bueiro. E o molambo de Judith, é
molambo, é molambo. E o baralho de Judith, é baralho, é baralho."
Mestre Navisala:
"Eu venho de longe, sem
conhecer ninguém. Venho colher as rosas que a roseira tem. Mas eu sou boiadeiro,
não nego o meu natural. Quem quiser falar comigo, bem vindo seja no
Juremal."
Mestra Maria Padilha:
"Que grito foi aquele que o mundo estremeceu
suas varandas. Foi de Maria Padilha, e a dona do mundo é ela ó minha
varanda."
Mestre Légua Bogi-Buá
Trindade:
"Légua, eu sou Légua, Légua Bogi Buá. Mas eu
plantei a Légua no tronco do Jurema. – (bis)"
Mestre Zé Pilintra -
(José Aguiar dos Anjos) – Ritual de Catimbó raiz Alhandra, Junça, Vajucá.
"Mandei chamar Zé Pilintra, nego do pé
derramado e quem mexer com Zé Pilintra, ou fica doido ou vem danado. – (bis) –
Seu doutor, seu doutor, Zé Pilintra chegou. Se você não queria, para que lhe
chamou. Dilim-Dilim, bravo senhor, dilim-dilá, bravo senhor, Zé Pilintra
chegou, bravo senhor para trabalhar. Bravo Senhor."
"Lá na Vila do Cabo, ele é primeiro sem
segundo. Só na boca de quem não presta, o Zé Pilintra é vagabundo."
"Zé Pilintra no Reino
Eu sou um Rei Real. Zé Pilintra no reino e eu vim trabalhar. Trunfei, Trunfei, Trunfei, Trunfá. Zé Pilintra no Reino, estou no meu Jurema. Trunfariá!"
Eu sou um Rei Real. Zé Pilintra no reino e eu vim trabalhar. Trunfei, Trunfei, Trunfei, Trunfá. Zé Pilintra no Reino, estou no meu Jurema. Trunfariá!"
"Chegou José Pilintra, sou o assombro do mundo
inteiro. Sou faísca de "fogo-elétrico", sou trovão do mês de
janeiro."
"Na passagem de um rio, Maria me deu a mão. E
o prometido é devido, é chegada a ocasião".
"Eu matei meu pai e minha mãe. Jurei padrinho
e Jurei Madrinha. Matei um cego lá na igreja e um aleijado lá na linha. Seu
doutor, seu doutor bravo senhor, Zé Pilintra sou eu, bravo senhor. Se você não
queria, Bravo senhor para que lhe chamou, bravo senhor".
#ACALUZ
Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da
ACALUZ
Diego Bragança de Moura - Historiador da ACALUZ
http://www.yorubana.com.br/encantados.asp -
09/12/2015 - 18:10
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