segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cabocla Jurema


Considerada a mais popular e poderosa ritualística de Encantaria brasileira o ritual da Jurema, é no nordeste, tão popular quanto o frevo e o samba no Rio de Janeiro.
Jurema (Acácia Nigra), é a árvore sagrada dos indígenas brasileiros há milênios. Nela concentram-se todos os valores fitoterápicos e místicos de um ritual que de uma certa forma, influenciou todos os demais no Brasil inteiro. Dezenas de encantados e mestres espirituais do ritual da Jurema povoam as “Casas de Nação” (candomblés) os quais não podem negar-lhes “espaço”. A Jurema por ser um ritual totalmente brasileiro é o único que se equipara aos seus congêneres africanos por ter sua própria Raiz e Origem. A raiz, é a árvore com suas folhas, casca e raízes – A origem é Monan, deus supremo dos Tupis, Caetés, Tabajaras, Potiguás, Tapuias, Pataxós e outras nações indígenas. Seus protetores eram (até a chegada do branco), Tupan, Yara, Caapora, Curupira, Boiúna, Boiátatá, Jaguá, Rudá, Carcará e outros mais. Eram de tribos diferentes, mas cultuavam os mesmos deuses aos pés da mesma árvore: JUREMA.

Com a miscigenação entre os indígenas e o branco e entre indígenas e o negro miscigenaram-se também, suas culturas, seus arquétipos, seus usos e costumes. Com o aparecimento “caboclo” (mestiço), apareceram também os encantados resultados desta mestiçagem. O ritual da Jurema, vulgarmente chamado de “Catimbó”, devido ao uso de cachimbos durante a prática, é cercado de preparos e cuidados especiais respeitanto-se prioritariamente a ancestralidade de cada um ou da própria raiz em torno da qual realiza-se a prática. Esta por sua vez, obedece à vínculos locatícios chamados de “cidades da jurema”, cada uma com seu nome. O ritual tanto pode ser feito sobre uma mesa com pode ser feito no chão. As forma são distintas, com objetivos as vezes diferentes.
Os ingredientes e apetrechos usados nos rituais de Jurema são os seguintes:
Cachimbos confeccionados à mão de diferentes troncos de árvores Fumos feitos com folhas de tabaco misturadas com folhas de diferentes árvores (dependendo da intenção do “trabalho”) Maracá (chocalho indígena) para invocar os mestres encantados Pequenos troncos de Jurema sobre os quais acende-se velas (dependendo do número de “Cidades” as quais serão invocadas – (preferencialmente 4 cidades) Sineta de metal nobre para invocação dos Mestres - (no passado era com caxixi) 2 ou mais copos altos e largos com água Toalha vermelha ou branca se for na mesa e vermelha se for no chão.

Lenda da Jurema

Cabocla, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia. Corajosa, a cabocla tornou-se a primeira guerreira mulher da tribo, pois a sua força e agilidade no manejo das armas e na ciência da mata, se tornara uma lenda por todo o continente; onde contadores de estórias, aos pés da fogueira, falavam da índia da pena dourada, que era a própria Mãe Divina encarnada. 


Nada causava medo na cabocla, até o dia em que ela encontrou o seu maior adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar, de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, e que fora preso numa batalha. 

Os dias se passaram e o amor aumentava, pois o pior de amar não é amar sozinho e sim ser amado em retorno, pois exige do amado, uma ação em prol do amor. 

Pelo olhar, o caboclo Huascar dizia: 

"Oh doce Cabocla 
meu doce de cambucá 
minha flor cheirosa de alfazema 
tem pena deste caboclo 
o que eu te peço é tão pouco 
minha linda cabocla Jurema 
tem pena desse sofredor 
que o mal destino condenou 
me liberta dessa algema 
me tira desse dilema 
minha linda cabocla Jurema" 

Jurema que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e da armadeira, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que sentia o cheiro à distância de ciladas, não conseguiu resistir ao amor que fluia do seu peito por aquele guerreiro. Observando o caboclo preso, ela viu nos olhos dele, as mil vidas que eles passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne e percebeu que não foi por acaso, que ele fora o único caboclo capturado vivo, e decidiu libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulsa da sua tribo. 

Na fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio a chuva de flechas voando na direção do caboclo fugitivo, foi Jurema que caiu, salvando o seu amado e recebendo a ponta da morte que era pra ele, no seu próprio peito. 

Conta a lenda, que o caboclo Huascar voltou a Terra do Sol e fundou um império nas montanhas andinas e mandou erguer um templo chamado Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde, só as mulheres da tribo habitariam e lá aprenderiam a ser guerreiras como a mulher que salvara a sua vida. E no lugar onde a Jurema caiu, nasceu uma planta robusta e muito resistente que dá flor o ano inteiro, cujo formato exótico e o tom amarelo-alaranjado intenso chamou atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes, até as flores e o caule; e porque as flores dessa planta estão sempre viradas para o astro maior; ela ficou conhecida como girassol.

Pesquisador. Diego Bragança de Moura - Historiador da ACALUZ
Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ
Referências de Pesquisa:
Arquvios da ACALUZ e 
http://ensinodearuanda.blogspot.com.br/2012/10/lenda-cabocla-jurema.html

Caboclo Tupinambá





O termo Tupinambá provavelmente significa "o mais antigo" ou "o primeiro", e se refere tanto a uma grande nação de índios, da qual faziam parte, dentre outros, os tamóios , os temiminós , os tupiniquins , os potiguara , os tabajaras , os caetés , os amoipiras , os tupinás (tupinaê), os aricobés  e um grupo também chamado de Tupinambás.

Os Tupinambás como nação dominavam quase todo o litoral brasileiro e possuíam uma língua comum, que teve sua gramática organizada pelos jesuítas e passou a ser conhecida como o tupi antigo , sendo a língua raiz da língua geral paulista  e do nheengatu . Entretanto, normalmente, quando se fala em tupinambás está-se a referir às tribos que fizeram parte da Confederação dos Tamoios , cujo objectivo era lutar contra os portugueses, também conhecidos como perós .
Apesar de terem raízes comuns, as diversas tribos que compunham a nação Tupinambá lutavam constantemente entre si, movidas por um intenso desejo de vingança que resultava sempre em guerras sangrentas em que os prisioneiros eram capturados para serem devorados em rituais antropofágicos .
Em todas as tribos tupinambás era comum a observância aos heróis civilizadores, como chama Alfred Métraux  em seu livro A Religião dos Tupinambás, que eram divindades que haviam criado ou dado início à civilização indígena (Meire Humane e Pae Zomé  - mito ameríndio comum em toda a América Meridional). Também era comum a intercessão junto aos espíritos dos pajés , o uso dos maracás , chocalhos místicos cujo uso era obrigatório em qualquer cerimônia.
Atualmente existem dois núcleos de índios Tupinambá, no litoral da Bahia: Olivença, município de Ilhéus , com 20 aldeias e 3864 indígenas; e a aldeia Patiburi, município de Belmonte , com 199 pessoas.
Os tupinambás da Região Sudeste do Brasil tinham um vasto território, que se estendia desde o rio Juqueriquerê , em São Sebastião  / Caraguatatuba , no Estado de São Paulo , até o cabo de São Tomé , no estado do Rio de Janeiro .
O grosso da nação tupinambá localizava-se na baía da Guanabara  e em Cabo Frio , ou Gecay, o nome da mistura de sal e pimenta que os índios, embora não consumindo o sal, vendiam aos franceses, com os quais se aliaram quando estes estabeleceram a colônia da França Antártica  na baía de Guanabara.
As tentativas de escravização dos índios para servirem nos engenhos de cana-de-açúcar  no núcleo vicentino, levaram à união das tribos numa confederação sob o comando de Cunhambebe , chamada de Confederação dos Tamoios , englobando todas as aldeias tupinambás, desde São Paulo, Vale do Rio Paraíba  (São José dos Campos , Taubaté  e outras) até o cabo de São Tomé, com invejável poderio de guerra.
É neste ínterim que Nóbrega  e Anchieta  teriam sido levados por José Adorno de barco até Iperoig  (atual Ubatuba ), para tentar fazer as pazes. Segundo a tradição, Nóbrega voltou até São Vicente  com Cunhambebe  e o Padre José de Anchieta ficou cativo dos tupinambás em Ubatuba. Neste período, ele teria escrito o Poema da Virgem. Fatos lendários e fantásticos teriam ocorrido nesta época do cativeiro, como o milagre de Anchieta: levitar entre os índios, que horrorizados, queriam que ele dalí se retirasse pois pensavam tratar-se de um feiticeiro.
Seja como for, os padres com muita diplomacia, conseguiram desmantelar a Confederação dos Tamoios, promovendo a Paz de Iperoig , o Primeiro Tratado de Paz das Américas. Diz-se que depois de feitas as pazes, Nóbrega advertiu os índios de que, se voltassem atrás na palavra 
empenhada, seriam todos destruídos, o que de fato ocorreu. Quando os portugueses atacaram os franceses do Rio de Janeiro, estes pediram ajuda aos índios, que de fato acudiram a seus aliados. Isto levou ao extermínio dos tupinambás que moravam em aldeias em torno da Baía da Guanabara, na segunda metade do século XVI . Os que conseguiram se salvar foram os que se embrenharam nos matos com alguns franceses e os índios tupinambás de Ubatuba que, para não ajudarem e não correrem riscos, ou se embrenharam nos matos ou foram assimilados pelos colonos em Ubatuba, gerando a atual população caiçara  daquela região assim como a população cabocla do Vale do Paraíba Paulista e Fluminense.
Contudo, o golpe fatal ao fim dos tupinambás, foi o ataque ao último reduto francês em Cabo Frio, com a destruição de todas as aldeias. Tudo destruído com fogo e passado ao "fio da espada". Os sobreviventes ou se embrenharam nos matos e migraram para outras regiões ou alguns poucos ainda, no final do século XVI, podiam ser encontrados numa aldeia de índios cristãos próxima da então recém-fundada cidade do Rio de Janeiro, local onde morreu e foi enterrado o Padre Nóbrega.
Por esses motivos e por algumas declarações que denotariam em tese conivência com o extermínio indígena, é que o Padre José de Anchieta tem sido considerado muito polêmico até os dias atuais, embora noutras oportunidades, tenha declarado que se dava melhor com os Índios do que com os portugueses. Afinal, os padres jesuítas  tinham a boa intenção e boa-fé de angariar novas almas para a Igreja, no movimento conhecido como Contra-Reforma, haja vista a Reforma que havia se iniciado e espalhado pela Europa .

Pesquisador. Diego Bragança de Moura
Por. Adriano Figueiredo Leite - Presidente da ACALUZ
Fonte. Arquivos da ACALUZ.