Na medida em que o Catimbó entra na área urbana, território típico da Umbanda, ou mesmo a Umbanda vai para o interior estas duas práticas tem que se encontrar. É neste momento que certamente Zé Pelintra entra para o Catimbó. Isto certamente ocorre nos centros onde pessoas de Umbanda também trabalham com mestres e provavelmente já eram de Umbanda e absorvem o Catimbó em um movimento muito típico da Umbanda que absorve várias Religiões e Culturas.
No Catimbó ele é Mestre, e por ser uma entidade diferente das que são cultuadas na Umbanda, ele não trabalha numa linha específica, porém, sua participação mais ativa seria na gira de baianos e, em alguns casos, na linha da esquerda, como exú. Sua principal marca é ser um espírito “boêmio”, “malandro” e brincalhão e, mesmo assim, trabalha com muita responsabilidade. Seu Zé cobra muito de seus médiuns, cobra por seriedade, entrega, disciplina, dentre outras virtudes.
Na direita ele vem na linha de baianos, fuma cigarro, bebe batida de coco ou simplesmente cachaça. É representado por uma tradicional vestimenta (calça branca, sapato branco, terno branco, gravata vermelha e chapéu branco com uma fita vermelha).
CARACTERÍSTICAS MARCANTES
A primeira é ser muito brincalhão, gostar muito de dançar, de mulheres e de bebida. Mas é muito comum, também, encontrá-lo mais sério, parado em um canto, assim como sua imagem gosta de representá-lo olhando para o movimento ao seu redor. Contudo, quando ele vira para a esquerda, ele pode vir trajado de um terno preto, calças e sapatos também pretos, gravata vermelha e uma cartola, fumando charutos, bebendo conhaque e uísque, até – em alguns casos - usa uma capa preta. Mas seja do lado que for, você sempre verá um Zé Pelintra com seu pito (cigarros ou cigarrilhas), um uma bebidinha nas mãos, sempre muito brincalhão e extrovertido.
REPRESENTAÇÃO E ORIGENS
Personagem bastante conhecido seja por freqüentadores das religiões onde atua como entidade, por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Trata-se de uma corrente que, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e, portanto, carrega suas egrégoras tanto como outras.
Um do seu maior destaque está justamente no fato do Seu Zé ter uma tremenda elegância e competência, mesmo sendo negro (levando em consideração que, para a época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, e que desse abismo social implicava também uma grande divisão financeira de classe social). É como se a figura do Seu Zé torna-se representativa da própria dignidade do negro, deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal.
Em sua origem, Seu Zé torna-se famoso primeiramente no Nordeste… Primeiro como freqüentador dos catimbós e, depois como entidade dessa religião. Vale destacar aqui que o Catimbó está inserido no quadro das religiões populares do Norte e Nordeste e traz consigo a relação com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia.Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes. De acordo com Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de janeiro onde se torna nas primeiras três décadas do século XX um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária. Segundo relatos históricos Seu Zé era grande jogador, amante das prostitutas e inveterado boêmio.
Contudo, há outra história que conta que Seu Zé teria nascido no povoado de Bodocó, sertão pernambucano próximo à cidadezinha que leva o nome de Exu, à qual segundo o próprio Zé Pelintra quando manifestado numa mesa de catimbó, foi batizada com este nome em sua homenagem, já que sua família era daquela região antes mesmo de se tornar cidade. Fugindo da terrível seca de meados do século passado que abatia todo o sertão, a família do então “José dos Santos” rumou para a Capital Recife em busca de uma vida melhor, mas o destino lhe pregou uma peça que culminou com a morte da mãe, antes mesmo que o menino Zé completasse 3 anos. Logo em seguida, morreria seu pai de tuberculose.
José então ficou órfão e teve que enfrentar o mundo juntamente com seus sete irmãos menores. Cresceu no meio da malandragem, dormindo no cais do porto e sendo menino de recados de prostitutas. Sua estatura alta e forte granjeou-lhe respeito no meio da malandragem. Conta-se que, certa vez, Zezinho, como também era conhecido, teve que enfrentar cinco policiais numa briga no cabaré da Jovelina, no bairro de Casa Amarela. Um dos soldados recebeu um corte de peixeira no rosto que decepou-lhe o nariz e parte da boca. Doze tiros foram disparados contra Zezinho, mas nenhum deles o atingiu. Diziam que ele tinha o corpo fechado. Antes que chegassem reforços, Zezinho já tinha fugido ileso, indo se esconder na casa do coronel Laranjeira, um poderoso usineiro pernambucano, protetor do rapazote e família. Em decorrência deste episódio, Zezinho ganhou o apelido de Zé Pelintra Valentão, nome esse dado pelos próprios soldados da polícia pernambucana. Pelintra significa pilantra, malandro, janota etc. Assim, entre trancos e barrancos, Seu Zé consegue fazer fama na cidade de Recife e criar seus irmãos até a maior idade. Quanto a sua morte, autores discordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, a firmam o homem era imbatível.
Para Zé Pelintra a morte representou “um momento de transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser assim, incorporado a Umbanda e ao Catimbó. Todavia, a principal história que seu Zé Pelintra quer escrever, é a da caridade, tanto aquela que ele dedicou aos seus entes queridos e pares de sangue, como também àqueles em que deveu um auxílio e apoio mútuo quando em vida. É assim que seu Zé Pelintra, hoje ao lado do espírito dos seus irmãos e irmãs em vida, formaram uma bela Falange de malandros de luz, que vêm ajudar aqueles que necessitam.
FAMÍLIA PILINTRA
Além do Zé Pelintra, há espíritos mentores, como ele, também conhecidos como Antônio Pelintra, Maria Pelintra, João Pelintra, Joana Pelintra, Mané Pelintra e Rosa Pelintra. Mas ainda, há suas qualidades de Zé Pelintra viradas na esquerda, que ganham atributos específicos da vida do Seu Zé, como Seu Zé Malandrinho, Seu Malandro, Malandro das Almas, Zé da Brilhantina, Malandro da Madrugada, Zé Malandro, Zé Pretinho, Zé da Navalha, Zé do Morro, e por aí vai. Só vale ressaltar que os Malandros não são exus, embora venham na Linha de Esquerda. Ao contrário dos Exus que estão nas encruzilhadas, encontramos os malandros em bares, subidas de morros, festas e muito mais.
Aqui, gostaria de fazer uma especial contribuição sobre uma Guia, muuuuuito importante na minha vida mediúnica. A baiana que eu trabalho desde o meu primeiro dia de Filha de Santo, na Umbanda, Sra. JOANA PILINTRA! Trabalho com ela há 5 anos e desde então, aprendi muito com suas histórias. Em vida, foi mãe de 3 filhos. Trabalhou nas lavouras de Milho enquanto o marido foi tentar a sorte no ciclo da borracha, nos seringais. Ela sempre se intitula devota de Nossa Senhora da Glória. Solitária mas muito bonachona, penso na Joana quando penso naquelas mulheres de avental, saia, blusa de campanha e lenço na cabeça. Mulher da Lida! Mão calejada do trabalho da roça e de casa. Mas, à noite, depois do banho, era Senhora Vaidosa. Sempre em seus vestidos de tecidos muito simples, mas rendeiros, Joana só se dedicava, ora aos filhos, ora a comunidade. ‘Rezadeira’, como ela mesma diz, era daquelas que conhecia todo mundo, que era chamada pra ir na casa de todo mundo, mas particularmente na dela, ela não gostava de receber. Dona de uma generosidade sem fim, ao mesmo tempo que ela pode ser carinhosa e cuidadosa, também já a vi dura e rígida. Como mãe que dá a palmatória certa nas horas que tem que dar. Sua fala é comprida… adora uma boa prosa. Mas quando dá pra falar curto e grosso… hummm. Segura! A língua fica maior do que a boca.
Acho que aprendi com ela e com a Família Pelintra esse lado, ri para resistir!!
Dançar, beber e brincar, sem abusar. Porque a vida não é feita só de excessos… é também senhora da moderação. Com eles, percebi quanto dessa luta e dessa gana sou capaz de reinventar, todos os dias, para eu mesma suportar as peripécias que esse mundo dá. E, ao mesmo tempo, fazer da aflição do outro, um motivo de se motivar e prosseguir, como quem trilha sua própria tristeza e avança. Porque vê no outro e projeta na caridade e generosidade alheia à mesma dedicação e o mesmo esforço que tanto precisa ter e desenvolver na vida para dignar a si mesma.
TIRA TEIMA:
Comida: carne seca com farofa ou escondidinho de macaxera, que é o mesmo que mandioca. (Na esquerda, acrescentar pimenta vermelha);
Bebida: Cerveja branca bem gelada;
Locais de vibração: Subida de Morros, Cemitérios, bares, zonas portuárias, áreas boêmias;
Cor: Vermelho e Branco ou Preto e Branco, ou ainda somente o Preto; Salve seu Zé Pelintra! Saravá a Família Pelintra!Salve a corrente dos Malandros!